A importância dos propósitos
Friedrich Nietzsche disse que “Quem tem porque viver, suporta quase qualquer como”. A importância dos propósitos em nossas vidas pode ser verificada em situações do nosso dia a dia ou mesmo em ocasiões onde imagina-se que o indivíduo não tenha mais motivos para continuar vivendo. Essa é uma das razões que nos levam a creditar o envelhecimento saudável a quatro capitais: saúde, financeiro, social, aprendizado continuado, mas, sobretudo, ao propósito. Ter propósitos é essencial para o nosso viver. E eles podem estar relacionados a conquistas ou bens materiais; ao sentimento por alguém ou mesmo ao renascimento por ter encontrado esse propósito em um momento de dor e sofrimento. Eles se alteram ao longo do nosso curso de vida e são diferentes de pessoa para pessoa. Mas o que importa é que eles nos alimentam e nos dão significado.
Desde os tempos gregos antigos, questiona-se qual o real sentido da vida. O que seria o viver. Entretanto, segundo Viktor Frankl, psiquiatra, sobrevivente do campo de concentração nazista e um dos fundadores da logoterapia, o essencial não seria este conceito abstrato da vida e sim qual o nosso papel concreto nela. Qual o significado que damos para ela. O que estamos fazendo com esse tempo transitório que nos é dado. O que estamos construindo, amando e aprendendo em momentos de sofrimento, que podem ser muitas vezes, inevitáveis. Esses deveriam ser os nossos reais norteadores. Todos os dias deveríamos acordar e encarar o presente como uma nova chance de estabelecer novos propósitos, de consertar o que não deu certo. Encarar os momentos na sua efemeridade e tentar não procrastinar. Ao analisarmos o nosso cotidiano, percebemos que adiamos essas decisões em maior ou menor grau, baseados em alguma certeza de que teremos um futuro para fazê-lo. Com que garantias?
Mas o maior motivador não seriam os propósitos individuais e sim aqueles que beneficiassem o próximo e as gerações que nos sucederão. E a isso, segundo o psicólogo Erik Erikson, dá-se o nome de generatividade. Essa necessidade de nutrir e guiar as próximas gerações. Quais serão os nossos legados? Quando eu partir, que é inevitável, qual terá sido a minha contribuição e do que se lembrarão da minha passagem na terra. Terei eu contribuído para o bem estar da minha família, dos meus amigos, da minha comunidade? Utilizei parte do meu tempo para melhorar a sociedade? Certamente não se lembrarão dos carros que possui, das casas que eu tive ou dos vinhos que consumi, que fazem parte da nossa vida, mas que não devem ser os nossos maiores valores.
O ganho de longevidade, no século XX, deve nos levar a repensar as nossas trajetórias de vida. Foram adicionados trinta anos às nossas vidas. Segundo a gerontóloga e professora Laura Carstensen, do Stanford Center on Longevity, os primeiros cinquenta anos de nossas vidas deveriam ser aqueles em que estaríamos explorando o mundo, desenvolvendo as nossas habilidades, construindo as nossas carreiras profissionais, forjando laços e criando famílias. Os próximos trinta a cinquenta anos seriam aqueles nos quais usaríamos as nossas competências para ajudar os outros. Teríamos, nessa fase, uma maior capacidade, com os conhecimentos e valores adquiridos, de criar melhores condições de educação, trabalho, saúde e lazer para as novas gerações. Mostraríamos a importância de ter propósitos ao longo do curso de vida que afetem não somente ao nosso eu individual, mas ao outro que está ao meu lado e aos que nos sucederão.
Este transcender do eu individual e pensar no outro é um processo de aprendizagem que extrapola o que aprendemos nas escolas, é algo que devemos aprender vivendo. A vida é cheia de possibilidades e, durante o nosso envelhecimento, essas possibilidades transformam-se em realidades, legados. Mas, as possibilidades não morrem à medida que envelhecemos. Elas devem ser depuradas neste processo, onde deixam de ter um foco maior na individualidade e passam a mirar a coletividade.